Por Erick Morais: Por uma educação que nos ensine a pensar e não a obedecer
Excelente Reflexão sobre a necessária presença da Filosofia
e demais matérias das Ciência Humanas para o desenvolvimento pleno da
cidadania.
Por: Erick Morais
Na escola, nós aprendemos que a filosofia é a mãe de todas
as ciências. Aprendemos sobre a importância da filosofia na formação do pensar
humano em todas as vertentes, desde das questões sobre o homem e o universo,
até discussões acerca do amor e da política. Dada a sua importância, deveríamos
ter uma educação com viés filosófico. Ou seja, uma educação que buscasse desenvolver
em nós um olhar crítico para o mundo que nos cerca e o nosso mundo interior.
Entretanto, o que recebemos de forma contrária, é uma educação acrítica e
completamente tecnicista, que tem como função primordial criar soldados bem
treinados para o famoso “mercado de trabalho” ou em uma tradução livre – “campo
de batalha do capitalismo selvagem”.
A polêmica reforma no ensino médio promovida recentemente
pelo Governo Temer, para muitos – professores, inclusive – é de se temer, com o
perdão do trocadilho. Uma mudança tão significativa na sociedade (já que a
educação é ou pelo menos deveria ser vista como o principal vetor de
transformação social) deveria passar por uma discussão mais profunda, com ampla
participação dos principais interessados, estudantes e professores. O que não
ocorreu em momento algum, mesmo sob fortes protestos dos excluídos da sua
própria pauta, levando-nos, até mesmo, a pensar na nossa fragilidade
democrática.
Mas o fato é que ela foi aprovada e está apta para entrar em
prática. E, é bom que se diga, a educação de fato precisava de mudanças,
transformações. Digo mais, não só no ensino médio, mas na educação como um
todo. No entanto, essa reforma vai tornar a educação melhor em que sentido? No
sentido filosófico ou tecnicista?
Não há problema em preparar os jovens para o mercado de
trabalho, mas uma educação transformadora, vai muito além disso. Dessa maneira,
por mais que a reforma no ensino médio torne a educação mais eficaz na
preparação técnica dos jovens, sobretudo, por haver uma divisão do trabalho,
digo, estudo em áreas do conhecimento específicas; ela apagará totalmente a
brasa da esperança de uma educação crítica. Isso ocorrerá porque não há como
pensar filosoficamente sem que todas as áreas do conhecimento possuam a mesma
importância e valorização, sem interdisciplinaridade (a base no Enem), sem a
provocação para o aluno e que a partir disso o levará ao aprofundamento de
certa área ou certo saber que mais lhe apraz e o faz se sentir vivo enquanto
sujeito individual e coletivo.
Ao subjugar alguns saberes, como filosofia, sociologia e
história, mas não apenas estes, a um patamar de inferioridade em relação à
língua portuguesa e inglês, por exemplo, a mensagem que o governo passa é de
que o importante é saber fazer alguma coisa, isto é, aprender os “comos”,
deixando de lados os “porquês”. Isso me lembra o mundo distópico de Fahrenheit
451 de Ray Bradbury, em que os livros e todo o pensamento crítico e poético
incutido neles são queimados, a fim de haja a manutenção da ordem em uma sociedade
tecnicista em que fazer perguntas é coisa de gente “maluca”.
Sendo assim, perdemos mais uma oportunidade de promover
modificações realmente significativas na educação brasileira. E não adianta
dizer que perguntas não ajudam ninguém a arrumar um trabalho, já que isso é uma
constatação óbvia, afinal, o que o mercado quer são profissionais excelentes na
arte de obedecer, sem jamais questionar. Mas o que você, caro ser “pensante”,
não consegue perceber é quão necessárias são as perguntas para que se questione
todas as problemáticas existentes na sociedade e, assim, se consiga combater os
males na origem, ao invés de ficar comprando verdades como mentiras, como dizia
Orwell.
Certa feita foi dito no cinema por um professor que palavras
e ideias podem mudar o mundo. Bom, eu acredito nisso e, portanto, acredito em
uma educação filosófica, em que todos os saberes e todas as ciências sejam
importantes e utilizados na formação de mais do que estudantes, de indivíduos
capazes de se perceberem enquanto agentes sociais imprescindíveis para que o
mundo continue em uma rota evolutiva. Apesar disso, muitos continuarão
acreditando que o que precisamos mesmo é de mais soldados capazes de manter o
campo de batalha intacto, protegido e sem ataques. Assim, só me restam as
palavras de Símon Bolívar, duras e mais do que nunca, verdadeiras, já que: “Um
povo ignorante é o instrumento cego da sua própria destruição. ”
Publicado em: http://genialmentelouco.com.br/2017/02/23/por-uma-educacao-que-nos-ensine-a-pensar-e-nao-a-obedecer/
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