Mulher... De Beauvoir!!!



"Hesitei muito tempo em escrever um livro sobre a mulher. O tema é irritante,
principalmente para as mulheres. E não é novo. A querela do feminismo deu
muito que falar: agora está mais ou menos encerrada. Não toquemos mais
nisso... No entanto, ainda se fala dela. E não parece que as volumosas tolices
que foram ditas neste último século tenham realmente esclarecido a questão..."
  (Simone de Beauvoir)


Passados mais de 70 anos de, O segundo sexo, Mais de meio século de minha própria existência feminina, metade dos meus anos vivi sem me tornar "mulher"  no sentindo beauvoiriano.

Menina "bisbilhoteira, desde a mais tenra idade me esgueirando pelas paredes, colhendo retalhos de conversas reservadas aos adultos, das mulheres me interessava desvendar o mistério da cegonha que só vinha de madrugada, dos homens aqueles murmúrios, pós assistirem o jornal nacional na casa de uma vizinha mais abastarde (Minha tia saudosa tia Losa). Meu pai e os demais lavradores “cochichavam preocupados”, pescava palavras inquietantes, como: ditadura, militar, comunismo, prisão, censura, sindicato, perseguição, carestia, fome e morte.  Só na minha segunda metade de vida "Já mulher" comecei a tecer a remendar os retalhos.

Na primeira fase de minha vida 1970/83  pós duas guerras mundiais. Em meio à guerra fria, era demasiado perigoso aos homens falar de política, as mulheres conversavam sobre a comida cada vez mais escassa, a conta na venda que nunca se pagava, as roupas surradas das crianças, em casa éramos 8, na minha tia 5, na vizinha Dona Darci 10 e a pobre estava outra vez "embuchada", choramingava o destino da filha mais velha, (seu malfadado destino) casada com um "pé rapado" dois filhos na saia e mais um na barriga, todas rezavam, mãe tias e vizinhas para que as meninas mais novas fizessem um bom casamento. (Elas podiam falar alto, aquilo não era política)

Mesmo menina refutava com veemência o "malfadado destino" de que a Virgem Maria me abençoasse com um bom marido, filhos saudáveis e algumas posses para não me preocupar com a carestia.
Equilibrava-me no fino fio que é a vida, dançando ciranda, já filosofava poetizando. Fixando o olhar no horizonte desenhava minha própria utopia.

Trabalhando

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