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REFLEXÃO DO PROFESSOR ALDO SANTOS: UMA TRISTE SEMANA


Coincidência a parte, esta semana foi bombardeada por marcantes acontecimentos do ponto de vista cultural, jornalístico, intelectual e político.
Do ponto de vista cultural perdemos o pai da bolsa nova, João Gilberto, um ícone da música popular mundial que deixa lacuna impreenchível. Aos 88 anos morre João Gilberto que fora enterrado no dia 08/07/2019, e fãs cantam: “Chega de saudade”.
No campo do jornalismo, morre repentinamente aos 76 anos, Paulo Henrique Amorim, uma voz afiada contra o Bolsonarismo e as mídias reacionárias . Seu corpo foi velado na Associação Brasileira de imprensa. O tom político e jornalístico continua afiado, conforme manifestação e homenagem dos presentes, ao coro de “Fora Bolsonato e Lula Livre”
No mundo acadêmico, morreu o Sociólogo Chico de Oliveira, aos 85 anos de idade. Um dos fundadores do PT, que em 2003 rompeu com o partido vindo para o Partido Socialismo e liberdade (Psol).
No tocante a política, nesta semana foi aprovado no primeiro turno a reforma da Previdência, uma votação viciada e às custa do dinheiro público, através das famosas emendas parlamentares. O balcão de negócio do congresso distribuiu fartamente o dinheiro do erário público para vitimizar ainda mais os contribuintes mais empobrecidos. Aprovado na noite de quarta-feira, dia 10/07/2019, por 379 votos a favor e 131 contrários, o texto-base mantém os privilégios das Forças Armadas, do Legislativo, do Executivo, do judiciário e órgãos auxiliares.
Mais uma vez a máxima de Eduardo Galeano se faz presente: A justiça é como uma serpente, só morde os pés descalços...
Possivelmente na votação do segundo turno prevista para o mês de Agosto, haverá mais um agrado para garantir o resultado do primeiro turno.
Em artigo publicado no dia 23 de abril do corrente ano, a ativista Clara Valverde descreve as politicas neoliberais da seguinte forma: “O neoliberalismo aplica a necropolítica – deixa morrer pessoas que não são rentáveis.”
“Clara Valverde, ativista política e social, além de escritora, apresenta seu novo livro De la necropolítica neoliberal a la empatía radical (Icaria / Más madera): “O poder neoliberal faz com que os incluídos não confiem nos Excluídos, que os vejam como estranhos, diferentes, desagradáveis e não se solidarizem com eles.”
Valverde apresenta seu novo livro com a alusão a um texto pichado em um muro: “Com a ditadura nos matavam. Agora nos deixam morrer.” Em De la necropolítica neoliberal a la empatía radical (‘Icaria/Más madera’), essa ativista e escritora sustenta que o sistema neoliberal é incompatível com a luta contra a desigualdade. Para ela, esse sistema divide a sociedade em excluídos e incluídos: desconsidera os primeiros e atemoriza os segundos para perpetuar e aumentar o poder e a riqueza dos privilegiados.
O que devemos entender por “necropolítica neoliberal”?
Necro é o termo grego para ‘morte’. As políticas neoliberais são políticas de morte. Não tanto porque os governos nos matam com sua polícia, mas porque deixam morrer pessoas com suas políticas de austeridade e exclusão. Deixa morrer os dependentes, os sem-teto, os doentes crônicos, as pessoas nas listas de espera, os refugiados que se afogam no mar, os emigrantes nos CIE[i]…
Os corpos que não são rentáveis para o capitalismo neoliberal, que não produzem nem consomem, são deixados para morrer.
Como você consegue convencer os cidadãos de que essa “necropolítica neoliberal” os beneficia? Por que não ocorre uma rebelião massiva contra ela?
Os que ainda não estão excluídos, os que ainda acreditam no mito de que nesta sociedade somos livres aceitam e endossam o que dizem os poderosos e sua imprensa: que os excluídos não são como eles, que são um povo imundo e sujo, diferente, com má sorte e maus hábitos. O mito interiorizado é que os excluídos procuraram a situação que sofrem.
Não ocorre uma rebelião massiva contra as necropolíticas dos governos, contra a exclusão, porque as pessoas que ainda não estão excluídas não se identificam com os excluídos. Pensam “este não sou eu”, “isso não vai acontecer comigo”. Não se deixam identificar com aquele que sofre, não tem empatia radical. Na realidade, as necropolíticas afetam a todos. Então, essa pessoa incluída na doença será possivelmente excluída sem renda e sem ajuda.
Nesse desenho social, há cidadãos excluídos e cidadãos incluídos. Ninguém defende os excluídos?
Muito poucas pessoas defendem os excluídos. Quantas pessoas se organizam para apoiar os sem-teto? Quantas ajudam os idosos ou doentes crônicos e suas associações? Na PAH [Plataforma de Afetados pela Hipoteca – “associação de pessoas que perderam suas casas para os bancos e foram despejadas”] há apoio mútuo e empatia radical, mas quase todos os que estão ativos na PAH também são afetados pelos despejos.
Os incluídos acreditam que estão a salvo de expulsão do sistema, mas são advertidos a todo o momento de que podem ser excluídos. O temor da exclusão estimula a falta de solidariedade em nossa sociedade?
Os que agora têm sorte de não estar doentes, despejados, desempregados, deveriam pensar que a maioria, a menos que se tenha muito capital econômico, poderia chegar a ser excluída. Vamos dizer que você era motorista de ônibus. Se você adoece, ainda que tivesse contribuído durante anos, é muito possível que o Instituto Catalán de Evaluaciones Médicas (ICAM) te dê alta, mesmo que esteja muito doente para trabalhar. Então, o que você fará? Sem poder trabalhar, sem renda e com as despesas que uma doença implica e que a Seguridade Social não cobre…
O poder neoliberal faz com que os incluídos não confiem nos Excluídos, que os vejam como estranhos, diferentes, desagradáveis e não se solidarizem com eles.” https://resistaorp.blog/…/o-neoliberalismo-aplica-a-necro…/…
É neste contexto que os fatos ocorridos nessa semana ficarão registrados na memória e na história, com a perda de João Gilberto, com a morte repentina de Paulo Amorim, bem como com o passamento do grande Chico de Oliveira.
Nesta semana também carregaremos para sempre a pior reforma da previdência já aprovada neste abjeto parlamento Brasileiro. Ou seja, são propostas e emendas aprovadas que condenam os pobres a miséria econômica e a morte precoce.
A luta contra a reforma da previdência deve continuar, no segundo turno, no Senado e possivelmente nos Estados e Municípios. 
Mais uma vez devemos tomar as ruas, organizando outra greve geral através dos comitês de luta para exigir das direções o efetivo compromisso com as bandeiras históricas de luta e resistência da nossa classe.
Lutar, resistir e vencer é preciso!
Aldo Santos-Ex-vereador/sbc, militante sindical, membro da Diretoria da APROFFESP e da APROFFIB.

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