Referências que não passarão com o tempo: Ao artigo publicado em 29/12/2020 no Mídia Rubi
Estes tempos passarão
“Que tempos são estes em que é preciso defender o óbvio?”
Bertolt Brecht
Nasci na segunda metade do século passado, pós duas guerras mundiais. Em meio à guerra fria, mais precisamente em 1970, sob a égide militar de Médici. Aprendi de pequena que não se podia falar de política: “Política não se discute, ainda mais sendo criança e mulher”. Ficava a espreita quando após o terço e os encontros da Comunidade Eclesial de Base Rural, meu pai e os demais lavradores “cochichavam preocupados”, pescava palavras inquietantes, como: ditadura, militar, comunismo, prisão, censura, sindicato, perseguição, morte… na primavera de 1979 me encolhi contra a parede, estarrecida ao ouvir meu tio dizendo que em São Paulo os militares tinham matado o Santo!
O Martírio para mim, aos 9 anos, não era novidade, visto que todos os anos acompanhávamos a Via Sacra, mas a polícia dar um tiro nas costas do Santo Dias!? Que tempos eram aqueles? Eu quis saber o porquê, me responderam que não era assunto de criança e que eu fosse brincar de ciranda.
Fui cirandar de mãos dadas com o tempo
Caminhando, cantando e seguindo a canção
Esperando a banda passar cantando coisas de amor
Rezando o Pai nosso dos Mártires
Atendendo o chamado da Mãe Negra Mariama
Ah que saudades que tenho das cirandas de outrora!
Hoje, o tempo mais uma vez me desafia, me inquerindo sobre o que é óbvio nestes dias em que vivemos? Em tempos como estes é possível defender um Imperativo Categórico? A Verdade? A Justiça? A Liberdade? A Igualdade? A Fraternidade? A Sororidade? A Empatia?
Como militante das causas sociais, meu primeiro ímpeto nesse 29 de dezembro de 2020 foi fazer um balanço/retrospectiva, (fake news, lobos em pele de cordeiros, desgoverno, pandemia, isolamento, vidas valoras ceifadas, milhares de sobreviventes, aprendizado, resiliência…) No entanto, em respeito a tudo que vivemos não farei retrospectiva, tampouco versarei sobre perspectivas… Como filósofa e poeta, deixo que falem por mim às reticências!
Por óbvio que tudo passa…
Passou o Natal…
Passará o Réveillon…
Passaremos por 2020, 21…
Só não passará a necessidade de defender o óbvio!
“Não aceito mais as coisas que não posso mudar, estou mudando as coisas que não posso aceitar”.
Angela Davis
Referências:
"Bertold Brecht (1898-1956), dramaturgo, poeta e encenador alemão, é considerado autor desta frase que tem absoluta relevância nos tempos atuais. Mas o que quer dizer defender o óbvio? O próprio significado de óbvio prescinde defesa e, talvez, seja esse antagonismo que enriquece a célebre frase."
CEBs: https://observatoriodaevangelizacao.wordpress.com/2018/01/19/a-historia-das-cebs-no-brasil/
"As CEBs no Brasil nasceram no contexto da rica fermentação popular que marcou o início da década de 60. Neste período, o contexto sócio-cultural e eclesial nacional foi pontuado pela presença viva de movimentos como a Ação Católica (em especial a JUC, JEC e JOC) e o Movimento de Educação de Base (MEB). Tais movimentos lançaram as primeiras sementes de uma compreensão crítica do evangelho e da incidência da fé na história..."
SANTO DIAS: http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/santo-dias/
"Santo Dias da Silva era operário metalúrgico e membro da Pastoral Operária de São Paulo. Foi morto pela Polícia Militar quando comandava um piquete de greve, no dia 30 de outubro de 1979. Santo Dias era lavrador, mas foi expulso da terra onde vivia com a família em 1961, após participar de um movimento por melhores condições de trabalho..."
PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES: https://www.culturagenial.com/musica-pra-nao-dizer-que-nao-falei-das-flores-de-geraldo-vandre/ https://youtu.be/1KskJDDW93k
"A música "Pra não dizer que não falei das flores" foi escrita e cantada por Geraldo Vandré em 1968, conquistando o segundo lugar no Festival Internacional da Canção desse ano. O tema, também conhecido como "Caminhando", se tornou um dos maiores hinos da resistência ao sistema ditatorial militar que vigorava na época..."
A BANDA: https://www.letras.mus.br/blog/a-banda-chico-buarque-analise/
"Chico Buarque escreveu a música A Banda, um de seus maiores sucessos, e a inscreveu no II Festival de Música Popular Brasileira, em 1966, se tornando a canção vencedora daquele ano.
A canção fala sobre a alegria de ver a banda passar, permitindo que pessoas façam uma pausa na vida cotidiana, sempre tão dura e corrida."
PAI NOSSO DOS MARTIRES:https://youtu.be/lsPDR_912ls
"Belíssima canção em memória dos mártires do nosso tempo! "Pai Nosso dos Mártires" é de autoria do Pe. Verbita Cirineu Kuhn. Aqui a canção é interpretada por Turcão e Regina Antonelli (na época vocalistas do grupo Tarancón)"
NEGRA MARIAMA: https://youtu.be/I4eZOkZXAas
"Na Missa dos Quilombos, celebrada em Recife no ano de 1981, Dom Helder Câmara proclamou a sua ORAÇÃO A MARIAMA. Era um forte apelo aos bispos para que assumissem a causa do povo negro, assim como haviam assumido a causa dos povos indígenas.
“Mariama” é nome dado a Nossa Senhora. É uma tentativa de dizer MARIA em língua africana. É como se pronunciássemos “Maria” em todas as línguas da Mãe África.
Inspirada por D. Helder Câmara e pelos agentes de pastoral afro, compus a letra da canção Negra Mariama em 20 de setembro de 1984. No dia seguinte, compus a melodia.
O teólogo frei Clodovis Boff escreveu que essa canção é um Magnificat negro.
Quem começou a cantá-la, com atabaques e dança, foi um grupo de jovens do Parque Santa Madalena, na periferia Leste de São Paulo. Depois, jovens negros do Rio de Janeiro passaram a divulgá-la. Em 1988, por ocasião da Campanha da Fraternidade, que assumiu o tema do povo negro, a CNBB a gravou e divulgou.
É uma alegria ver que essa canção expressa o sentimento e o compromisso pela justiça e fraternidade sem fronteiras. Ela tem um verbo (chama, de chamar), que também é um substantivo (a chama de fogo, luz, calor). Nas estrofes, outros verbos se ligam ao chamado da Mãe Negra: Ela nos chama pra enfeitar, cantar, dançar, lutar. Axé!" (Maria Cecilia Domezi)
ANGELA DAVIS: https://www.hypeness.com.br/2017/01/a-vida-e-a-luta-de-angela-davis/
"Figura símbolo da causa negra na década de 1960 nos EUA, Angela voltou recentemente ao centro das atenções da mídia americana após seu contundente discurso na Marcha das Mulheres, em Washington, D.C., nos EUA – no dia seguinte à posse de Donald Trump. Sua história de resistência e luta, no entanto, é em muito a história da mulher negra americana do século XX "
“Mariama” é nome dado a Nossa Senhora. É uma tentativa de dizer MARIA em língua africana. É como se pronunciássemos “Maria” em todas as línguas da Mãe África.
Inspirada por D. Helder Câmara e pelos agentes de pastoral afro, compus a letra da canção Negra Mariama em 20 de setembro de 1984. No dia seguinte, compus a melodia.
O teólogo frei Clodovis Boff escreveu que essa canção é um Magnificat negro.
Quem começou a cantá-la, com atabaques e dança, foi um grupo de jovens do Parque Santa Madalena, na periferia Leste de São Paulo. Depois, jovens negros do Rio de Janeiro passaram a divulgá-la. Em 1988, por ocasião da Campanha da Fraternidade, que assumiu o tema do povo negro, a CNBB a gravou e divulgou.
É uma alegria ver que essa canção expressa o sentimento e o compromisso pela justiça e fraternidade sem fronteiras. Ela tem um verbo (chama, de chamar), que também é um substantivo (a chama de fogo, luz, calor). Nas estrofes, outros verbos se ligam ao chamado da Mãe Negra: Ela nos chama pra enfeitar, cantar, dançar, lutar. Axé!" (Maria Cecilia Domezi)
ANGELA DAVIS: https://www.hypeness.com.br/2017/01/a-vida-e-a-luta-de-angela-davis/
"Figura símbolo da causa negra na década de 1960 nos EUA, Angela voltou recentemente ao centro das atenções da mídia americana após seu contundente discurso na Marcha das Mulheres, em Washington, D.C., nos EUA – no dia seguinte à posse de Donald Trump. Sua história de resistência e luta, no entanto, é em muito a história da mulher negra americana do século XX "
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