Bora filosofar poetizando
Que súbita ousadia é essa?
Querer dialogar, brincar num leve parafrasear
Os oito anos de Casimiro de Abreu*...
Ah que saudades que tenho...
De ouvir o galo cantar
Os cachorros anunciando o voo livre da aurora
A meninada acordando de pé no chão, dançando sobre o orvalho...
Saudades daquela vida franciscana antes dos meus oito anos
Lá no noroeste paranaense onde eu menina peralta, sonhava os primeiros versos de ciranda...
À sombra das bananeiras, embaixo dos laranjais!
Saudades da aurora da minha vida!
Aquela tarde de verão chuvoso
Meu uniforme escolar
A camiseta de algodão branco
Molhada e transparente
Os olhares daqueles rapazes
A pasta escolar colada ao peito (escudo protetor)
De repente ainda com a chuva caindo aquele pôr-do-sol
O Arco Íris...
Tirei os sapatos (congas azuis desbotados)
Senti meus pés afundar na lama
Soltei a pasta que me acorrentava
Corri feliz pela estrada de terra batida em meio aos cafezais
Nunca mais parei aquela carreira...
Seguimos eu e o Arco íris vida a fora
Brincando de esconde esconde
Hora ele batendo cara, hora eu!
* Casimiro de Abreu (1839-1860) foi um poeta brasileiro, autor da obra Meus Oito Anos, um dos poemas mais populares da literatura brasileira que se destacou na Segunda Geração do Romantismo. https://www.academia.org.br/academicos/casimiro-de-abreu/biografia
MEUS OITO ANOS
"Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!"
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