Combater a pobreza menstrual: Abaixo o veto presidencial!



Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos


⁠” Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.”

Tornar-se mulher no Brasil é um desafio que transcende a filosofia existencialista de Simone de Beauvoir e vai para além da literatura determinista de Aluísio de Azevedo, posta a nu (1890), na narrativa metafórica da menina Pombinha, tornada mulher, esposa, adultera e prostituída.

“Pombinha soltou um ai formidável e despertou sobressaltada, levando logo ambas as mãos ao meio do corpo. E feliz, e cheia de susto ao mesmo tempo, a rir e a chorar, sentiu o grito da puberdade sair-lhe afinal das entranhas, em uma onda vermelha e quente.” (O Cortiço, pg. 93)

“... Tornou-se, finalmente, uma mulher, e agora poderia casar-se [...] Pobre Pombinha! no fim dos seus primeiros dois anos de casada já não podia suportar o marido; todavia, a principio, para conservar-se mulher honesta, tentou perdoar-lhe a falta de espírito, os gostos rasos e a sua risonha e fatigante palermice de homem sem ideal; ouviu-lhe, resignada, as confidências banais nas horas intimas do matrimônio. [...} Faltou-lhe o equilíbrio e a mísera escorregou, caindo nos braços de um boêmio de talento, libertino e poeta. [...] A pobre mãe chorou a filha como morta; mas, visto que os desgostos não lhe tiraram a vida por uma vez e, como a desgraçada não tinha com que matar a fome, nem forças para trabalhar, aceitou de cabeça baixa o primeiro dinheiro que Pombinha lhe mandou. E, desde então, aceitou sempre, constituindo-se a rapariga no seu único amparo da velhice e sustentando-a com os ganhos da prostituição.”

Tendo como único bem o próprio corpo, sua misera existência. A condição de mulher da personagem aqui descrita é agravada pela pobreza financeira que mundo afora vitima milhares de mulheres, pobreza essa que se soma a outra miséria igualmente perversa, a pobreza cultural que ainda sustenta o patriarcalismo e a misoginia, vergonhosamente expressa na atitude do presidente da República, Jair Bolsonaro, ao vetar a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para estudantes, mulheres em situação de vulnerabilidade e presidiárias, atitude que corrobora com toda sua verborragia machista e sexista. Em seu “cercadinho” o presidente tentou justificar o veto “foi 'obrigado a vetar' distribuição de absorvente por não ter fonte de custeio”, sem o menor pudor o autor da “fraquejada” e de frases como: “Eu jamais ia estuprar você porque você não merece”, demonstra seu total descaso, ignorância e a negligência do seu governo quanto à pobreza menstrual que afeta mulheres e homens trans que vivem em condições de pobreza e situação de vulnerabilidade em contextos urbanos e rurais, por vezes sem acesso a serviços de saneamento básico, recursos para higiene e conhecimento mínimo do corpo.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o acesso à higiene menstrual é tido como um direito e deve ser tratado como uma questão de saúde pública e de direitos humanos.


 
Para saber mais: 


Lúcia Peixoto
 Filósofa, Professora de Filosofia, 
Poeta, Artesã, Bacharel em Ciências da Religião, 
Licenciada e Pós Graduada em Filosofia, 
Cursando História.


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