GRITO DAS MULHERES EXCLUÍDAS: “Nenhuma a Menos!” É o Nosso Grito de Independência!

“Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilantes durante toda a sua vida” 
Simone Beauvoir


O Grito dos Excluídos, surgiu em 07 de setembro de 1995 no berço das Pastorais Sociais da igreja católica com o lema: “A Vida em primeiro lugar”, cresceu rapidamente e tornou-se uma manifestação popular carregada de simbolismo, “um espaço de animação e profecia”, aglutinador de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos. “O Grito brota do chão e encontra em seus organizadores suficiente sensibilidade para dar-lhe forma e visibilidade”.

A 23ª edição do Grito dos Excluídos se dá em um dos momentos mais emblemáticos da curta história democrática do nosso país, que passa por um “golpe pseudodemocrático” com a cassação de uma presidenta democraticamente eleita para dar lugar a um presidente ilegítimo, denunciado (e não investigado) que aliado a um parlamento composto em sua maioria por cumplices, igualmente denunciados em esquemas de corrupção, muitos investigados e alguns até condenados, promove um verdadeiro desmonte das instituições viola a constituição e saqueia direitos da classe trabalhadora, com anuência do poder judiciário.

Em momentos como estes de acirramento de crises por todas as partes do mundo que tende ao retrocesso e a proliferação de ideologias fundamentalistas de extrema direita. “Olhamos pelo retrovisor da história” e parafraseamos uma das maiores pensadoras dos últimos tempos, Simone de Beauvoir que nos alertou que “basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados.” O que nos coloca diante da necessidade urgente de defender os poucos avanços (significativos é bem verdade) mas ainda insuficientes para garantir que nossa voz seja ouvida e nossa dignidade resguardada.

Neste 7 de Setembro gritamos em defesa das vítimas da violência, do silêncio e da omissão de uma sociedade que ainda admite ranços de uma cultura patriarcal excludente. Segundo o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada: 50.000 mulheres foram mortas no país entre 2001 e 2011, o que dá uma média de 4,6 assassinatos para cada cem mil habitantes. O Brasil se coloca na sétima posição mundial, entre os países nos quais mais se matam mulheres. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública o Estado de São Paulo registra um caso de feminicídio a cada 4 dias, o que nos coloca diante da necessidade urgente de um amplo debate e de uma atuação mais eficaz na fiscalização quanto a aplicabilidade da Lei nº 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, e da Lei nº 13.104/15 que entrou em vigor no dia 9 de março de 2015 definindo o crime de Feminicídio (assassinato de mulheres motivado justamente por sua condição de mulher) qualificando-o como hediondo.

Em todas as marchas, nós mulheres gritamos ao lado, quando não à frente de nossos valorosos camaradas, por Vida em primeiro lugar, trabalho e terra para viver, justiça e dignidade. Porque “Aqui é o meu país” e o Brasil viu que “um filho teu não foge” e luta por progresso e vida, por uma pátria sem dívidas. Podíamos ter feito acontecer estava em nossas mãos a mudança, a força da indignação, sementes de transformação, queríamos participação no destino da nação e perguntamos onde estão nossos Direitos? Fomos às ruas para construir o projeto popular, com respeito à terra “Pacha Mama” e defendemos os direitos da juventude e de lutar por Democracia! E agora conclamamos a todas para dar um passo à frente encarar o debate de gênero, fazer cair as mordaças e não mais permitir que nenhuma mulher seja ameaçada, agredida, estuprada ou assassinada, na intimidade do lar, em praça pública ou onde quer que queiramos estar.

“Nenhuma a Menos!” É o Nosso Grito de Independência!

Lúcia Peixoto, Filósofa, Professora de Filosofia, Poetisa, Bacharel em Ciências da Religião, Licenciada e Pós Graduada em Filosofia, Diretora de Relações Sociais e Movimento Sindical da Aproffesp.

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