Prosa de domingo: Eu com meus botões

Porque hoje é domingo...
Levantei um pouco mais tarde (apesar de ter acordado muito cedo)
Deixei-me na cama entregue a inércia
(O que só é possível nas manhãs de domingo)
Por fim encarei o espelho e me sorri
Elevei uma prece (Cantarolei a oração do tempo*)
Gratidão pelas marcas deixadas na pele
Já passaram por mim mais de cinquenta primaveras
Desde aquele julho de 1970
Quando deixei o ventre de minha mãe Aurora
Acolhida pelas mãos pretas da Dona Bilú (nossa doula querida)
Lavada, enfaixada, embrulhada pela avó Lídia
Aos berros anunciei minha chegada
"Essa vai ser braba!" Sentenciou meu pai João!

Foram muitas geadas
Corridas atrás do rastro do Sol
Cantigas entre hortências, margaridas e rosas
(Que saudades do jardim lá de casa)

Veio a diáspora...
A Usina de cana
O latifúndio engolindo os sítios
A terra toda tombada
Os colonos juntado seus "trens"
Lavrador virou boia fria
Meus pais com os oito filhos na bagagem migraram.
São Paulo no início da década de 80 (já não era mais da garoa)
Urbe gigantea de encantos e desigualdades

Caia a ditadura militar
Se falava em democracia, constituinte, liberdade!
Chorei (sem entender bem o porquê) a morte do Presidente Tancredo.
Fui fiscal do Sarney ( mesmo sem ter dinheiro para comprar carne)
Torci (de camisa vermelha e estrela no peito) para o Lula ser eleito.
Veio o Fernando Collor de Mello com suas falsas cascatas
Fui pra rua de cara pintada
Derrubamos o presidente...
Veio o Vice...
Duas vezes um outro Fernando...
E então chegou a vez do Lula... ( Aqui são infinitas as reticências)
Nossa vida melhorou de fato
Elegemos Dilma primeira Presidenta
Enfrentamos mais um golpe
Mais um Vice usurpando a presidência
Ai veio Ele o falso messias e seu gado adestrado
Falou-se em terra plana
Negacionismo, conservadorismo, e outros burrismos
Sobrevivemos à pandemia (Estamos sobrevivendo apesar deles)
Os ventos da história sopraram em outra direção
Nos esperançamos (Dando um passo a mais em direção à Utopia)

... ... ...

Voltando ao início da prosa (cá com meus botões)
Hoje é domingo...
Revisito minha própria história (escrita em versos de rimas quebradas)
Me corrijo
Reedito
Parafraseio
Faço selfie de cara lavada
Filósofo poetizando



Texto primeiro:https://farejadorfilosoficoo.blogspot.com/2021/05/porque-hoje-e-domingo-proseio-com-meus.html

*Oração Ao Tempo

"És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo, tempo, tempo, tempo
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo, tempo, tempo, tempo
Quando o tempo for propício
Tempo, tempo, tempo, tempo
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo, tempo, tempo, tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo, tempo, tempo, tempo
O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Apenas contigo e 'migo
Tempo, tempo, tempo, tempo
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Não serei, nem terás sido
Tempo, tempo, tempo, tempo
Ainda assim, acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Portanto, peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo, tempo, tempo, tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo, tempo, tempo, tempo"
Compositores: Emanuel Viana Teles Veloso Caetano

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