CONSCIÊNCIA NEGRA: Das mães nos navios negreiros, construtoras de Abayomi à Dandara de Palmares, somos Marielles sementes de resistência!




CAMPANHA PELO FERIADO NACIONAL DO DIA 20 DE NOVEMBRO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA


“Companheira/o me ajuda, que eu não posso andar só.
Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor”

O dia da Consciência Negra, 20 de Novembro é uma celebração em memória dos quase 400 anos de escravidão e luta por liberdade. Não queremos “feriado facultativo” queremos respeito a data que representa a herança histórica da população negra no processo de libertação e de luta por direitos.

Em 9 de janeiro de 2003, foi sancionada a lei n°10.639/03 que institui a obrigatoriedade da inclusão do ensino da História da África e da Cultura Afro-brasileira, nos currículos de estabelecimentos públicos e particulares de ensino da educação básica.

Com a Lei 10.639/03 também foi instituído o dia 20 de novembro como dia Nacional da Consciência Negra sendo outorgada aos estados e municípios decretarem feriado ou não.
A data faz memória ao dia da morte do líder quilombola negro Zumbi dos Palmares. (1655-1695)

ZUMBI DOS PALMARES
Zumbi nasceu no estado de Alagoas no ano de 1655. Foi o principal representante da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial. Foi líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos dos engenhos, índios e brancos pobres expulsos das fazendas. O Quilombo dos Palmares estava localizado na região da Serra da Barriga, que, atualmente, faz parte do município de União dos Palmares (Alagoas). Na época em que Zumbi era líder, o Quilombo dos Palmares alcançou uma população de aproximadamente trinta mil habitantes. Nos quilombos, os negros viviam livres, de acordo com sua cultura, produzindo tudo o que precisavam para viver. Símbolo da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial.

Embora tenha nascido livre, foi capturado quando tinha por volta de sete anos de idade. Entregue ao padre jesuíta católico Antônio Melo, recebeu o batismo e ganhou o nome de Francisco. Aprendeu a língua portuguesa, latim, álgebra e a religião católica, chegando a ajudar o padre na celebração da missa. Porém, aos 15 anos de idade, fugiu de Porto Calvo para viver no quilombo dos Palmares. Na comunidade, deixou de ser Francisco para ser chamado de Zumbi (que significa aquele que estava morto e reviveu, no dialeto de tribo imbagala de Angola).

No ano de 1675, o quilombo é atacado por soldados portugueses. Zumbi ajuda na defesa e destaca-se como um grande guerreiro. Após um batalha sangrenta, os soldados portugueses são obrigados a retirar-se para a cidade de Recife. Três anos após, o governador da província de Pernambuco aproxima-se do líder Ganga Zumba para tentar um acordo, Zumbi coloca-se contra o acordo, pois não admitia a liberdade dos quilombolas, enquanto os negros das fazendas continuariam aprisionados.

Em 1680, com 25 anos de idade, Zumbi torna-se líder do quilombo dos Palmares, comandando a resistência contra as topas do governo. Durante seu “governo” a comunidade cresce e se fortalece, obtendo várias vitórias contra os soldados portugueses. O líder Zumbi mostra grande habilidade no planejamento e organização do quilombo, além de coragem e conhecimentos militares.

O bandeirante Domingos Jorge Velho organiza, no ano de 1694, um grande ataque ao Quilombo dos Palmares. Após uma intensa batalha, Macaco, a sede do quilombo, é totalmente destruída. Ferido, Zumbi consegue fugir, porém é traído por um antigo companheiro e entregue as tropas do bandeirante. Aos 40 anos de idade, foi degolado em 20 de novembro de 1695.


DANDARA DE PALMARES
São pouquíssimos os registros sobre Dandara, parte dos historiadores ressaltam o fato de que não há documentos escritos referindo-se ao nome Dandara, mas, em contrapartida, há uma nova geração de historiadores que defendem a legitimidade da tradição oral na transmissão de conhecimentos por parte dos povos de origem africana. Dandara foi companheira de Zumbi e mãe de 3 filhos, liderava mulheres e homens, na luta armada e contra toda e qualquer forma de discriminação, não se encaixava nos padrões de gênero que ainda hoje são impostos às mulheres e usurpa tantas histórias de resistência como a de Dandara, a maior parte da sua história é envolta em grande mistério. Sabe-se que Dandara suicidou-se (jogou-se de uma pedreira ao abismo) depois de emboscada, em 6 de fevereiro de 1694, para não retornar à condição de escrava.

Ainda que tardiamente o nome de Dandara de Palmares foi incluindo no livro de Heróis e Heroínas da Pátria. O chamado “livro de aço” homenageia as lutadoras e lutadores fundamentais para a construção da história brasileira, depositado no Panteão Tancredo Neves, em Brasília. Ao lado de Luiza Mahin , Maria Felipa, Maria Quitéria, Zumbi dos Palmares e Luis Gama, dentre outros. Dandara de Palmares é considerada heroína na luta pela liberdade no Brasil. A Lei 13.816, de 2019 . Dandara vive em todas, todos e todes que lutam por liberdade.


Das mães negras aprisionadas, que nos navios negreiros suas saias rasgavam para transformar medo e dor em alento para suas crianças. Abayomi[1], mas que boneca de pano, (encontro precioso). De Dandara de Palmares à Marielle Franco somos milhares de guerreiras, muitas como eu de pele “mais clara”, brasileiras, afrodescendentes irmanadas na mesma sina, rasgar nossas saias, abrir nossas almas, jamais calar diante da opressão de uma sociedade que viola nossos corpos, fere nossas almas, mas jamais matará nosso anseio por liberdade.

Reproduzir ABAYOMI é bem mais que “resgate cultural” é Reforçar elos de resistência é UBUNTU[2] (Ser com o outro). Como Dandara foi com Zumbi em defesa de Palmares, como Marielle é com todas nós, semente de resistência!


Para saber mais: http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/16845-dandara-e-a-luta-pela-liberdade

https://mst.org.br/2019/05/09/dandara-dos-palmares-e-luisa-mahin-heroinas-da-patria-heroinas-do-povo-brasileiro/



[1] boneca Abayomi (encontro precioso)
Conta-se que nas viagens de travessia do Atlântico do tráfico negreiro, em meio as mais diversas agruras, as crianças africanas choravam assustadas porque viam a dor e o desespero dos adultos. As mães negras, então, para acalentar suas crianças, rasgavam tiras de pano de suas saias e faziam bonecas com elas para as crianças brincarem.

[2] Ubuntu é uma filosofia africana, presente na cultura de alguns grupos que habitam a África Subssariana, cujo significado se refere a humanidade com os outros. ...Ubuntu significa generosidade, solidariedade, compaixão com os necessitados, e o desejo sincero de felicidade e harmonia entre os seres humanos.




Lúcia Peixoto
Filósofa, Professora de Filosofia,
Poeta, Artesã, Bacharel em Ciências da Religião,
Licenciada e Pós Graduada em Filosofia,
Cursando Formação Pedagógica em História




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