129 ANOS DEPOIS: O "MITO" DA NOVA, VELHA REPÚBLICA BRASILEIRA

Neste feriado em "comemoração" aos 129 anos da Proclamação da República no Brasil, ouso publicar algumas reflexões, sobre o sentimento republicano do "povo brasileiro".

Busco compreender o atual cenário político que se desenha no Brasil pós eleições de 2018, com a vitória de ideias nacionalistas erigidas sob o fundamentalismo religioso, e um pseudo liberalismo positivista. sobre o lema "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". Ouço alguns "cientistas virtuais", autodidatas, publicando as mais variadas e assustadoras/absurdas afirmações sobre o que chamam "A Nova Política" a "Política do Mito". O que nós remete a um questionamento etimológico.

Mito palavra de origem grega Mythos "Narrativa de teor fantástico e simbólico, normalmente com personagens ou seres que incorporam as forças da natureza e as características humanas. Algo ou alguém cuja existência não é real ou não pode ser comprovada.

De acordo com o Senso Comum mito significa: mentira, narrativa fantasiosa sobre um "Personagem, fato ou particularidade que, não tendo sido real, simboliza não obstante uma generalidade que devemos admitir. Coisa ou pessoa que não existe, mas que se supõe real. Coisa só possível por hipótese; quimera."

O que nos leva a concluir que uma parcela significativa do "povo brasileiro" ou não entende o significado de Mito, ou comprou passagem para uma Ilha da Fantasia, misto de Terra do Nunca e Utopia, a ser governada por um capitão ao qual atribuem poderes mitológicos salvíficos.

Um olhar panorâmico sobre a história do Brasil, nos possibilita uma analogia entre o emblemático momento político atual e outros tantos que já vivemos. Para entender a logica (a mim irracional) daquelas que embarcaram na aventura "mitológica", revisito as páginas da história, onde primeiramente reencontro Marx a nos lembrar que "A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa."

Muitos historiadores se dedicaram e dedicam-se ao estudo da história numa perspectiva de descobrir e apropriar-se do resultado da ação humana no tempo, que se transforma em realidade concreta individual e social. O historiador José Murilo de Carvalho busca interpretar a dinâmica conflituosa do imaginário político-social, em Os bestializados (1987) mostra como em 1889, quando da Proclamação da República no Brasil o "povo" acreditava tratar-se da conquista ao direito de cidadania e participação de todas as camadas sociais no "Novo Governo", expectativa essa frustrada já nos primeiros dias de implementação do "novo regime", que beneficiou somente as oligarquias em detrimento das parcelas mais pobres da sociedade, constituída principalmente por ex-escravizados e seus descendentes. "A República Federativa Brasileira nasce pelas mãos dos militares que se veriam a partir de então como os defensores da Pátria brasileira." 

Por fim, concluo esse preâmbulo com a canção popular de autoria de Arnaldo Brandao e Cazuza . "Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de grandes novidades. O tempo não para. Não para, não, não para..." 

https://www.letras.mus.br/cazuza/45005/


Lúcia Peixoto, Poeta e Escritora, Filósofa, Professora de filosofia na Rede Pública de Educação do Estado de São Paulo, Presidenta da APROFFESP




CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados. O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 2013

MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011












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